Eu
tinha uns 10 anos quando decidi que queria escrever. Na verdade, meu
gosto pela escrita veio junto com o gosto pela leitura. Minha mãe
sempre comprou livros pra mim, desde que eu era bem pequena. Eu não
lembro exatamente qual foi o primeiro que li, mas lembro do primeiro
pelo qual me apaixonei: Precisa-se de Um Avô.
Lembro que quando
terminei o livro me deu uma vontade danada de escrever uma história
tão legal quanto aquela. Na última página tinha a costumeira e
breve biografia do autor, neste caso, autora: Heleninha Bortone.
Fechei o livro decidida a me tornar uma Heleninha.
Um dia seria a
minha foto e a minha biografia no final de uma obra, um dia alguém
leria um livro meu e quem sabe, no fim das contas, seria tomado pelo
mesmo sentimento e aí surgiria mais um escritor?!
A
partir daquele momento eu passei a torcer pra que um adulto chegasse
perto de mim e perguntasse “o que você quer ser quando crescer?”
só pra que eu pudesse ter o prazer de responder “escritora!”.
A
primeira historinha que escrevi foi pra um trabalho na escola. Lembro
de como fiquei toda boba e orgulhosa quando li o “Excelente!!!”
da professora no meu caderno. Chegando em casa mostrei aos meus pais
e eles ficaram tão bobos e orgulhosos quanto eu, principalmente por
que eu não havia pedido a ajuda deles. A história tinha saído
todinha da minha cabeça!
O
tempo passou, eu cresci e o amor por escrever também. Percebendo que
viver de escrita já não era mais um desejo efêmero de criança,
meu pai achou prudente me alertar: “filha, ser escritor neste país
é muito difícil. É preciso que você tenha uma garantia, uma outra
profissão”. Ou seja, ele queria dizer que eu devia buscar uma
coisa mais pé no chão, algo que me desse uma estabilidade, e
encarar a escrita como um projeto paralelo, que podia vingar ou não.
Claro
que a conversa não me agradou muito, mas não havia como negar que a
preocupação do seu Edson tinha fundamento.
Como
eu não podia ser simplesmente escritora, optei pelo Jornalismo. O
que não resolveu quase nada do problema, porque ser jornalista
também é difícil pra caraca. Aliás, meu pai já tentou me fazer
mudar de ideia um monte de vezes. Só que depois de eu ter dito que
também tenho vontade de fazer Cinema e Antropologia (sim, sou
irrevogavelmente de Humanas) ele desistiu.
Talvez
eu acabe não passando no vestibular pra Comunicação e entre pra Letras ou História que são cursos que eu também faria com muito
amor, mas certamente continuarei escrevendo e lutando para ser
reconhecida por aquilo que escrevo. Nem que seja via blog mesmo.
Obviamente,
muitos outros livros me conquistaram depois de Precisa-se de Um Avô.
Contudo, o meu livro preferido de infância continua ocupando lugar
especial na minha estante e no meu coração. Não raro eu o folheio,
e reabri-lo é como sentir de novo aquele primeiro amor tanto pela
escrita quanto pela leitura.
Mesmo
que eu já tenha desejado (e ainda vá desejar) ser a nova versão de
um monte de autores, quando penso na essência desta paixão por
escrever, descubro que ainda existe uma criança aqui no fundo sonhando em ser uma Heleninha.